Acho que é meio cedo para começar a escrever sobre minha vida (de novo), mas... Desde o Ano Novo, algumas coisas mudaram. E pra melhor, finalmente.
Algo que venho percebendo há alguns anos, é que todo final de ano há uma "reinvenção" do meu eu. E o que isso quer dizer? Quer dizer que uma nova linha de pensamento surge, juntamente com novas esperanças e expectativas. Isso acaba me dando uma certa motivação que, anterior ao primeiro dia do ano, eu não possuía. E essa motivação, às vezes, acaba por trazer coisas inesperadas, variando de pequenas mudanças de personalidade - amadurecimento - até "prêmios".
Repito, é meio cedo para eu falar disso. Porém, no quesito "eu interior", sinto como se eu estivesse me tornando cada vez mais individualista. Isso não afeta (tanto) a parte social, mas sim meus objetivos e planos. Sinto como se as pessoas ao meu redor perdessem cada vez mais o valor e se tornassem uma perda de tempo, e tempo é algo que não quero perder.
Claro que, confesso, tenho muito tempo livre. E nesse tempo eu posso estar jogando, conversando, ou praticando algum hobby como a escrita. Porém, o ponto-chave é o meu claro desinteresse em interagir com os outros, principalmente pela internet. Acabei de falar que isso não afeta o social, justamente porque pessoalmente eu interajo com outras pessoas, até desconhecidos, normalmente. O problema está diretamente relacionado à comunicação virtual, que ocorre, normalmente, no meu tempo livre e quando estou fazendo algo. Em resumo, eu prefiro ficar fazendo qualquer coisa do que ficar mexendo no Whatsapp, por exemplo.
Minha linha de raciocínio sobre isso é a seguinte: ao conversar com pessoas pela internet, eu acabo não aprendendo nada, não ganhando nada. E o tempo que eu gasto conversando pode ser substituído por leitura de qualquer coisa, por exemplo.
Algo que posso confessar sobre isso, é que, pelo menos pra mim, deu certo. Comecei não a ler livros online, ou milhões de artigos de sites aleatórios. Mas sim, ler letras de músicas.
De relance, leitura de letras de músicas pode parecer algo extremamente banal. Isso, até eu dizer que tipo de música. Como alguns já sabem, eu comecei a curtir death metal melódico em 2013 e, desde então, esse gênero se tornou minha paixão não só pelas melodias bem trabalhadas e os vocais fortes, mas também pelo principal, o que é encontrado em forma "física": as letras.
Pulando uma discussão sobre meu gosto musical, irei ao prólogo. Uma vez, pesquisando por músicas de uma das minhas bandas favoritas, encontrei um canal do Youtube onde o responsável cria vídeos com letras de músicas, num estilo karaokê. Desde então, acompanhei e vasculhei todo o trabalho desenvolvido, consequentemente criando um gosto pela canção de certas músicas. Sim, eu canto.
Toda pessoa que canta ou que utiliza a voz, sabe que ela evolui com o passar do tempo dependendo de seu uso, e de como usa. Até algum tempo atrás, eu só cantava algumas músicas "normalmente". Porém, melodeath possui guturais.
Até o momento em que utilizei minha voz de forma normal, não notei nada de usual. Porém, comecei a forçá-la para sair guturais, e pela primeira vez me impressionei com o potencial: eu estava cantando várias músicas do Dark Tranquillity, dos álbuns "Haven" (2000) e "Damage Done" (2002), no mesmo tom do vocalista. O problema é que não há espaço adequado, e muito menos horário, para eu treinar o canto em casa.
A primeira oportunidade surgiu em uma festa que fizemos aqui. Estava apenas eu e meu padrasto no momento. Eu já estava meio "solto" depois de umas cervejas (mas não estava bêbado, claro), e então decidi cantar ali, na frente dele, no quintal de casa. Cantei com vontade, e senti uma explosão de confiança a cada música, o que me fazia forçar cada vez mais, mas não a ponto de explodir as cordas vocais, claro. Ao final, minha voz estava levemente rouca e mais grossa, mas eu estava bem.
Movido pela confiança em poder cantar sem desafinação, passei a ler mais letras. E é aqui que as coisas começam: o que acontece quando uma pessoa lê muito conteúdo? A resposta é bem óbvia, o conteúdo fica guardado como bagagem cultural.
Porém, o conteúdo contido nas letras das minhas 3 bandas favoritas vai além de refrões e versos banais da cultura pop. Cada palavra está ali com um propósito, como se a letra inteira fosse uma mensagem a se decifrar. E isso é uma das coisas que mais amo fazer: pensar bastante, de forma a decifrar mensagens, às vezes, subliminares.
Somando esse gosto pela leitura aos meus conhecimentos da língua inglesa, eu consegui perceber diversos conteúdos até então obscuros em minha mente. Questões sobre o mundo, relações interpessoais, emoções... Tudo ali, nas letras das músicas.
Quando 2017 começou, me senti inspirado por essas letras. Foi então, que comecei a pensar e escrever coisas em alguns lugares quando possível. Algo interessante é que certas reflexões, mesmo não chegando ao papel ou ao documento digital, permaneceram e ainda permanecem em minha mente, sendo resgatados ao simples toque do botão "Play" do meu celular. Basicamente, ouço uma música, lembro de suas letras, compreendo a mensagem e, além de reproduzi-la, me inspiro a escrever algo a respeito.
Essa criatividade retornando à minha mente foi algo extremamente benéfico, especialmente para o que ocorreu comigo em Janeiro. Tive a oportunidade de acompanhar o ritmo de uma agência de publicidade, o que para mim valeu mais do que todos esses 3 semestres na faculdade.
Inicialmente, foi proposto que eu ficasse observando os funcionários até o começo das minhas aulas. Mas não consegui apenas observar, até porque tenho especialização nessa área (e paixão pelo que é feito nela). Logo, me vi em um PC ajudando com alguns elementos dos trabalhos.
A cada dia, eu aprendia algo diferente, ensinado por uma pessoa diferente. Esses conhecimentos práticos, pra mim, valeram mais do que toda a teoria aplicada na faculdade, até porque, penso assim, "o trabalho está ali para ser feito, e não para ser pensado". E para maximizar a produtividade, a parte do "pensar" deve ser feita durante o "fazer". Não há tempo para aplicar todas as teorias de filósofos que morreram há 1 século, ou colocar estudos de especialistas em jogo: como um profissional, você deve absorver esses conteúdos e nunca mais parar pra pensar neles individualmente. Mesmo assim, outra confissão: não usei nada do que aprendi na faculdade até agora.
Mais do que tudo isso, aprendi o que é a realidade. Consegui ver que a faculdade é como um mundo imaginário, com ideias defasadas e poucas conexões com o real. Não é à toa que "quem faz a faculdade é o aluno", até porque, pra aprender, parece que depende mais do esforço e conhecimento pessoal do que esforço e conhecimento do professor.
Distanciando dessa crítica ao ensino superior, e voltando ao caso da agência: fiquei responsável, uma vez, em criar textos para o verso de algumas embalagens. Criei. E no final das contas, mesmo com os textos sendo modificados pelo próprio cliente, fui elogiado pelo meu trabalho.
Muitas pessoas já elogiaram a minha escrita, alegando que consigo expressar bem minhas ideias de forma que muitos entendam. Também elogiam minha fala, dizendo que "falo diferente", "bem formal". E é aqui que faço um gancho com o que levantei até o momento: todo esse modo de me expressar é embasado na minha bagagem cultural, que vem crescendo com a minha leitura. E a leitura de letras de músicas não fica de fora, até porque, além de estimular a criatividade para escrever sobre certos temas, as músicas incorporam a visão de uma outra pessoa. Ou seja, eu consigo adaptar meu texto como se fosse eu ou outra pessoa escrevendo.
Onde quero chegar com tudo isso? Num simples fato: a leitura é a porta de entrada para o conhecimento. Isso é óbvio. Mas a leitura de textos que fazem pensar são o próprio caminho para o conhecimento. Ou seja, a atitude de ler te leva pra algum lugar, e você precisa se guiar ali. Como? Pensando.
Com um repertório melódico, eu pretendo escrever algumas coisas bem variadas esse ano, partindo de reflexões e opiniões até letras de músicas. Sim, eu cantando e escrevendo. Afinal, meu trabalho nessa agência me dá a motivação necessária a continuar fazendo o que sei fazer, que é criar. E a música não só é uma fonte de entretenimento, mas também de conhecimento e inspiração, necessários para a criação. É um ciclo perfeito.